Salomão Ésper, âncora da Rádio Bandeirantes |
Na Rádio Bandeirantes desde 1952, Salomão Ésper completou 85 anos de vida em 26 de outubro. Apresentador do Jornal da Gente, está no ar de 2ª.feira a sábado, das 8h às 10h, comentando as notícias mais marcantes da semana.
Um dos âncoras mais antigos da casa, Salomão falou ao Portal dos Jornalistas sobre seu início de carreira, o que o motiva a se manter no rádio após tantos anos e as mudanças da área em relação ao período em que começou:
PJ – Como e quando decidiu ser jornalista?
Eu queria ser locutor, na verdade. Na época, ser locutor não significava necessariamente ser jornalista. Queria ser do rádio, e foi isso que me moveu a participar do concurso em 1948, na Rádio Cruzeiro do Sul. Tinha 18 anos, era novo, tinha certas ambições, preferências que depois foram mudando. No início era um interesse em participar, em ter minha voz escutada por milhares de pessoas. Fazia programas de música, de entretenimento. Só mais tarde é que comecei a me interessar pelo País, e assim a fazer um jornalismo analítico, não mais de exposição. Apesar de só passar a comentar notícias mais tarde, meu interesse em acompanhar veio cedo. Aos 14 ou 15 anos ajudava a entregar o jornalzinho na minha cidade, Santa Rita do Passa Quatro, no interior de São Paulo, só para ter acesso a ele, porque em casa meus pais só passaram a assinar jornal depois.
PJ – Como foi o início da trajetória, e em que momento se consolidou essa parceria com a Bandeirantes?
Quando estava no colegial, já comecei a ter contato com a Rádio Difusora de Pirassununga, participando dos programas musicais. Depois, em 1948 resolvi ser locutor. Fiz o concurso e entrei na Rádio Cruzeiro do Sul. Depois de quatro anos, fui para a Rádio América, que pertencia ao Grupo Bandeirantes, de onde não saí mais. Dentro da profissão de radialista passei a jornalista. Naquela época não havia diploma, jornalistas eram aqueles que sabiam escrever, se expressavam bem e dominavam os assuntos, conseguiam expor. E também quem conseguia comentar, dar sua opinião, que foi o que passei a fazer. É claro que eram outros tempos, as rádios costumavam ser de domínio de políticos, então a direção prestava atenção na sua tendência, e se estivesse de acordo, estimulava a prática dos comentários. Mais para a frente começou o jornalismo independente, então havia uma liberdade um pouco maior, apesar de ainda não poder fugir muito daquilo em que a emissora acreditava. Devagar os jornalistas iam conquistando o respeito da direção, e assim impunham seu espaço, podiam opinar, sempre deixando claro ser um posicionamento pessoal, e não da empresa. Foi assim que consegui o meu espaço, a Bandeirantes confiou em mim, me deu valor e liberdade.
PJ – Em algum momento cogitou trocar a locução por outros meios, como tevê ou impressos?
Cheguei a trabalhar na tevê. Tinha um programa na hora do almoço, Os titulares da notícia, que era na Bandeirantes. Eram a equipe da rádio e convidados, fazíamos um circulo e debatíamos as questões mais importantes da semana, conduzidas pelo apresentador. Foi um êxito consagrador. Tivemos bons momentos do jornalismo ali. Dava um debate bacana, porque as opiniões eram bem dissemelhantes.
Depois fui convidado a participar de uma seleção do Repórter Esso, aqui em SP. Eles precisavam de um repórter exclusivo, para estar à frente pela rádio e pelo programa, na TV Tupi. Acontece que a Segunda Guerra Mundial já havia acabado, o programa não tinha mais tanta importância. Recebi muita censura, disseram-me que seria um pontapé na sorte ir para a televisão. Então acabei negando e fiquei na rádio mesmo.
PJ – Qual foi a cobertura mais marcante de que participou nesses anos?
Dentro de tantas incumbências boas, a mais marcante foi a cobertura do lançamento do Apolo 11, cujos tripulantes pousaram na lua. Eu era o único jornalista brasileiro a fazer a cobertura do evento. Fiquei 20 dias lá, e tinha toda a liberdade para emitir minha opinião diante daquela conquista. Foi incrível.
PJ – O que o motiva a permanecer no rádio por tanto tempo?
Um pouco de vaidade. Tudo o que tenho ganhei, tudo todas as minhas conquistas foram por causa dessa área. Não sou comerciante ou empresário, ganhei tudo nessa profissão, sem nunca ter tido cargo político. Fiz o curso de Direito, ainda nos meus primeiros anos de rádio, mas na época já apresentava musicais, fazia programas de grande audiência. E quando via uma aula com pessoas renomadas do Direito, eu pensava “como é possível que eu fale a inúmeras pessoas e esse homem só a alguns alunos?”. Eu me sentia importante, tinha orgulho dessa responsabilidade de falar para milhares, me sentia um privilegiado, e ainda sinto isso, agora ainda dou minha opinião. Existem tantas pessoas inteligentes, renomadas, que não têm essa oportunidade de disseminar conteúdo para um número tão grande de pessoas. Não há como eu não me sentir honrado.
PJ – Que mudanças percebe no jornalismo da época em que começou e agora?
O que percebo é que havia poucas emissoras, umas dez, já hoje são 70 ou 80. Antes você falava que existia uma rádio forte, hoje uma emissora isolada não tem a mesma força. Graças à internet, às vezes uma coisa que você fala tem uma repercussão além do que se imagina, além dos próprios limites da emissora. Além disso, naquela época a exposição da opinião era limitada, hoje existe uma liberdade muito maior.
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