Wesley Wudea, 61, ouve informações sobre Ebola pela rádio, em Buchanan, Libéria. |
Com o rádio colado no ouvido, Wesley Wudea pede silêncio aos netos. Nos países afetados pelo Ebola, como a Libéria, o aparelho se tornou o melhor meio de comunicação com povoados de regiões afastadas.
"Tem gente que não fala uma única palavra de inglês", por isso "sem o programa no nosso dialeto, nunca saberíamos quais precauções tomar contra o Ebola", explicou o professor aposentado que fala bassa, assim como a maioria da população de Saint John, aldeia situada a 20 km do porto de Buchanan, a sudeste da capital, Monróvia.
Por isso, Wudea nunca perde o programa de informação em bassa na rádio Gbehzohn. Assim, ele adotou o costume de dizer aos filhos e netos que lavem frequentemente as mãos, o que obedecem sem reclamar.
Segundo ele, graças a estes programas, os aldeões se sensibilizaram com as medidas de prevenção ao Ebola e o imperativo de não tocar nos doentes ou nos mortos, ao ponto de que algumas práticas sociais, como dar a mão ou tocar um falecido durante um funeral parecem ter desaparecido.
A rádio Gbehzohn, no centro de Buchanan, dobrou o tempo da programação na língua local desde que a epidemia começou, explicou à AFP o diretor de programação, Isaac Siegal.
"Antes, só emitíamos 15 minutos, três vezes por dia, em bassa. Hoje, passamos a três vezes e 30 minutos diários", explicou.
- Acabar com boatos -
Durante uma distribuição de material de higiene e folhetos a rádios locais na província vizinha de Margibi, um alto funcionário do Ministério da Informação, Patrick Worzie, qualificou a missão destes veículos como chave para fazer chegar a mensagem sobre o Ebola às zonas rurais.
Na Libéria, Serra Leoa e Guiné - os países mais afetados pela epidemia, que já matou quase 5.000 pessoas - os idiomas locais são inevitáveis.
Anúncios, programas informativos e transmissões interativas são difundidos pelas rádios e TVs em diferentes dialetos. As antenas estão abertas a líderes religiosos, pessoas importantes ou formadores de opinião.
Em setembro passado, a organização Human Rights Watch (HRW) saudou o "papel-chave" desempenhado por associações de veículos locais na Libéria, que gravaram mensagens de sensibilização em idiomas locais, difundidos em 44 rádios comunitárias.
Em Kailahun, no leste de Serra Leoa, epicentro da epidemia no país, uma rádio comunitária, a Rádio MOA, lançou uma campanha para pôr fim a boatos que minam o combate ao vírus e que chegou a dezenas de milhares de ouvintes dos dois lados da fronteira com a Libéria e a Guiné, acrescentou a ONG.
Mas esta missão de sensibilização pode ser perigosa e, inclusive, mortal.
Na Guiné, oito membros de uma equipe de campanha de combate ao Ebola, três dos quais eram funcionários de rádios, morreram em setembro em Womey, no sul do país, pelas mãos de moradores que negavam a realidade do Ebola e denunciavam um suposto complô dos brancos.
A guerra nas ondas, por outro lado, não se limita aos países diretamente afetados.
A agência francesa de cooperação Canal França Internacional lançou, na semana passada, um projeto para "preparar preventivamente 48 rádios locais na África ocidental", com a finalidade de "melhorar a aceitação da informação de das mensagens de prevenção por parte das populações, frequentemente desconfiadas".
O projeto "Rádios contra o Ebola" será desenvolvido em seis países, dos quais quatro não registraram nenhum caso confirmado: Costa do Marfim, Burkina Faso, Togo e Benin. Além destes, o Senegal declarou ter erradicado o vírus e o Mali foi o último país afetado.
Fonte: Diário de Pernambuco e Rádio em Revista
Fonte: Diário de Pernambuco e Rádio em Revista
Foto: AFP/Arquivos ZOOM DOSSO
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