Alô, cheguei!". José Carlos Araújo começou 2014 na Transamérica |
Profissional multimídia, José Carlos Araújo, o Garotinho do rádio carioca, atua na cobertura esportiva no comando do ‘Donos da Bola’, da Band, é colunista do jornal Metro, do mesmo grupo, e, prestes a completar 50 anos de carreira no rádio, acabou de migrar para a Transamérica do Rio de Janeiro “por um desafio novo”. A estreia aconteceu no último dia 2, ao lado dos companheiros Gérson e Gilson Ricardo.
Em entrevista ao Comunique-se, o narrador e apresentador fala sobre a importância de sua equipe para o sucesso de seu trabalho, a devoção pelo rádio, o mercado atual e a experiência profissional quando conciliava suas atividades na sala de aula, como professor de Geografia, e na beira do campo, como repórter. Sobre o futuro, ele é categórico: “Não vou parar porque acredito que estou contribuindo para o rádio e, principalmente, para aqueles que estão começando agora”.
Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:
Como foi a estreia na rádio Transamérica?
Gilson, Gerson e eu estávamos na Bradesco Esportes e na Bandnews FM até 31 de dezembro. Então, em razão disso, janeiro foi um mês de férias e só agora nós estreamos na Transamérica. É um projeto que estou acreditando, que é vitorioso há 12 anos em São Paulo, com o Éder Luiz. A emissora tem tradição e é muito forte em todo o Brasil. São 23 afiliadas próprias que transmitem a programação esportiva. Começamos com programa de manhã, de 7h às 8h, e com o ‘Arena Transamérica’, de 17h às 19h, com Gilson Ricardo, Áureo Ameno e todos os repórteres.
Você falou sobre seus companheiros, Gilson e Gérson.
O que a parceria com eles representa para sua carreira?
Sabe quando dá liga? Temos aquele feeling. Fiz questão, quando saí da Rádio Globo, de trazer para trabalhar na Bandnews e na Bradesco exatamente as vozes da transmissão principal da Rádio Globo. Antes, o Jorge Eduardo, que era nosso companheiro na casa, já tinha ido para lá também. Busquei essa identificação das vozes e, principalmente, trabalhar com pessoas que são amigas.
E sua equipe não se resume a Gérson e Gilson Ricardo...
Meu trabalho não seria tão vitorioso se eu não contasse com o apoio de um técnico que me acompanha há quase 30 anos, que é o Silvio Vieira. E também não posso deixar de citar o Sérgio Loureiro, nosso sonoplasta, que é aquele cara que dá vida, dá roupagem, dá formato, ao grande show que a gente se propõe a fazer.
Está trazendo alguma novidade para o time da Transamérica?
Trouxe comigo os estagiários que foram formados lá na casa (Bradesco Esportes), porque vou aproveitar todos eles na Transamérica, são meninos talentosos. Depois, Bruno Azevedo e Bruno Cantarelli, pediram demissão lá por opção, porque se sentiram mais confortáveis trabalhando comigo, mas de nenhuma maneira pensei em desmontar a equipe. Quem também vai trabalhar com a gente é o Áureo Ameno, que aos 80 anos de idade é um dos maiores talentos do rádio de todos os tempos. Ele é criativo, foi um dos redatores do ‘Repórter Esso’, o noticiário mais tradicional na Rádio Nacional. Um profissional desse estava parado, mas no meu modo de ver, a idade não era o que ia impedir.
Você fará transmissão em rede com a Transamérica de São Paulo?
Eu comecei agora, que o Eder Luiz estava de férias e eu também, mas nosso papo inicial é que nós, no Rio, geraríamos conteúdo para Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza. E o Eder para as demais praças, como interior de São Paulo e o Sul do país.
Como foi a conversa com o Grupo Bandeirantes para você sair do rádio (Bradesco Esportes) e continuar na TV (‘Os Donos da Bola Rio’, Band)?
Cordial, como sempre. Quando eu pedi para sair, meu contrato iria até 2015, mas expliquei ao diretor geral, Daruiz Paranhos, que queria partir para um novo caminho. A proposta que eu tinha não era de valores maiores. Pelo contrário, estava muito confortável no Grupo Bandeirantes, ganhando das Bandnews e da Bradesco Esportes e fazendo uma transmissão só. Ele compreendeu que eu não ia deixar o grupo, como não deixei.
A despedida da Rádio Globo aconteceu da mesma forma cordial?
Eu saí da Rádio Globo, depois de 42 anos, amigavelmente. Fizeram festa para mim, questionaram como um cara que ia fazer 50 anos de carreira poderia querer partir para um novo trabalho, mas os convenci e também ao Grupo Bandeirantes, a quem agradeço por ter lançado um projeto.
Como surgiram seus bordões? Você tem algum preferido?
O que mais me identificou foi o “Sou Eu”, que vem da lista de chamada. Aí que saquei. Relembrando Chico Anysio, meu grande amigo, ele me dizia para ficar sempre antenado ao meu redor, porque a maior fonte de enriquecimento para o trabalho é o povo. Lembro que uma vez fui comprar um ingresso para o teatro, em Copacabana, quando saí da bilheteria, um casal de adolescentes me abordou. Eles estavam cheios de fumo na cabeça, muita maconha mesmo, e pediram R$ 5. Dei uma nota para cada e um deles soltou um “valeu”. Você tem que ter capacidade de perceber, assimilar e adequar as coisas ao seu trabalho.
Já passou por alguma saia-justa durante uma transmissão?
Passei por uma crise de soluço, em 1992, durante uma partida entre Flamengo e América. Quando a bola parou, tentei prender a respiração, girar o olho, tudo que você aprende culturalmente como se fosse resolver. E não adiantava. Foi primeira página do jornal O Dia, inclusive. “Soluço cala Garotinho”, uma coisa assim. Minha sorte foi que um médico de plantão ligou para o Apolinho, que era meu comentarista na Rádio Globo, e mandou que eu chupasse gelo. Só arrumaram um pedaço cinzento, todo sujo, mas coloquei na boca, sem pensar duas vezes. Parou como milagre.
Prestes a completar 50 anos de carreira no rádio, você pensa em reunir suas histórias de alguma forma?
Tenho um livro, Paixão pelo rádio, que foi escrito pelo repórter do jornal O Globo, Rodrigo Taves, há quatro ou cinco anos atrás. Mas já está defasado, porque, na época, eu dizia que meu maior sonho era transmitir futebol em FM. É muita história para contar porque fiz dez copas do mundo. Essa será a 11ª. Foi por isso que saí do Grupo Bandeirantes, exatamente por um desafio novo. Não tenho que provar nada para mais ninguém, até porque acho que quanto mais movimentação no rádio mais valorização dos profissionais existe. Sou irrequieto e acredito que o meio estava acomodado.
Qual o balanço que você faz dessas cinco décadas de carreira?
Completo 50 anos de atuação em 1º de abril. Em 1964, entrei para a Rádio Globo, tive minha carteira registrada como locutor. Até então, era plantonista e rádio-escuta, mas sem ter contrato. Minha estreia seria no jogo Fluminense e Bangu. Ia fazer campo, entrevistas, mas a partida foi cancelada por causa do golpe militar. Quando comecei ali, já estava dando aula em colégio público e particular e era repórter do jornal O Dia. Sempre tive quatro ou cinco empregos para poder fazer um salário mais digno, ralando o tempo todo. Cresci e amadureci profissionalmente. Nunca fui pavio curto, nem usei de jogo sujo contra ninguém... Consegui sair da Rádio Globo me propondo a fazer passagem para o Luiz Penido, que foi meu sucessor, na decisão do carioca. Fiz questão. Não tenho inimigos, tenho apenas concorrentes.
Fonte: Comunique-se/ Jacqueline Patrocinio
Foto: Divulgação
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