Como que a revisitar a época em que os sinais sonoros das emissoras de rádio ecoavam pelos estádios de futebol, tão fortes a ponto de emoldurar na galeria dos tipos nacionais a imagem do homem com o radinho de pilha colado ao ouvido, o radialismo esportivo voltou a agitar os torcedores do Rio de Janeiro na semana passada. Não só, mas também, e principalmente, jornalistas, grandes emissoras, mercado publicitário e ouvintes. Repercutiu em notas nos prestigiosos e disputados espaços de Lauro Jardim em Veja e Ancelmo Gois no Globo,na primeira página do jornal Extra, popular e de grande circulação (24/4), nos blogs e nas redes sociais: José Carlos Araújo, conhecido pela alcunha de “Garotinho”, um dos maiores narradores da história da comunicação brasileira, decidira trocar a Rádio Globo, emissora que o acolhe há 41 anos, somando suas duas passagens, por um projeto inovador no Brasil e ainda cercado de sigilo, a Rádio Bradesco Esportes FM.
Deverão acompanhá-lo o comentarista Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, tricampeão na Copa de 1970 e o apresentador e repórter Gilson Ricardo, que este ano completou, com festejos, 35 de serviços prestados à Rádio Globo.
Atacada na jugular, a emissora contra-atacara pesado: repatriou Luiz Penido, o “Garotão da Galera”, que nos últimos anos lhe roubara o primeiro lugar no Ibope das transmissões esportivas pelos microfones da Rádio Tupi, a principal concorrente da Globo. Penido, que começou sua carreira na Globo no fim dos anos 60, estava havia quinze anos na Tupi, em sua segunda passagem por ela; na primeira, permanecera por cinco anos, entre 1988 e 1993. Como a equipe da Bradesco ainda está para ser montada, é provável que outras movimentações aconteçam.
Uma oferta de criatividade
Que há de novo nesta ebulição do jornalismo esportivo radiofônico? É a entrada no mercado da emissora 100% esportiva, a Rádio Bradesco Esportes FM, em rede nas principais cidades do país. Ao menos no Rio, pela contratação de Garotinho, já causou impactou antes mesmo da estreia, que deve ser em maio.
Há outra novidade, pouco comentada, mas igualmente importante: a agregação de uma grande marca ao nome da emissora. Não é um patrocinador de jornada, mas cocriadora do conceito e do conteúdo, dos quais pouco ainda se sabe, o que leva ao excesso de especulação.
Rádios voltadas para a transmissão de esportes, debates, mesas-redondas e noticiário esportivo não são novidades nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, há emissoras dos segmentos populares e jornalísticos que dedicam amplo espaço em sua programação ao futebol, esporte hegemônico, e em menor proporção, à Fórmula-1 e a outros esportes coletivos.
Mas pelo que se anuncia a Rádio Bradesco Esportes FM, será uma novidade que inverte a relação de oferta de criatividade do rádio para a televisão: entrará no ar duas décadas depois da consolidação das emissoras esportivas de TV por assinatura, que são várias: Fox Sports, os três canais do SporTV, a BandSports, o Esporte Interativo, ESPN Brasil, PFC. E ainda se aguarda a entrada da Sky Esportes Brasil. Haja esporte, haja amantes de esportes. Já a Globonews, que debutou no cabo em 1996, distou cinco anos da Rádio CBN – na qual Alice Maria mirou quando, responsável pela montagem do primeiro canal de notícias da televisão brasileira, começou a pensar nos profissionais.
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Bruno Filippo é jornalista, sociólogo e professor da Universidade Estácio de Sá e das Faculdades Integradas Hélio Alonso.
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